Não sei muito.
Sei que as tuas mãos
nas minhas
são o mundo.

E que o mundo
deixou de ser um lugar
p'ra ir e vir
quando me apetecer.

Tu fazes
com que eu queira adormecer
neste espaço de sonhos
tão profundos.


Mariana Reis 2014 

Quando é que vens
voar à nossa janela?
Que saudades de te ver pairar
acima
dos nossos olhos,
imersos de vontade
de olhar para os teus,
sequiosos de vida.

Agora que tens alma de gaivota
Agora que tens asas para voar
Sonha mais alto, deixa-te levar
Pelo azul que tens à tua volta...

Tu sabes que o mais belo despertar
É o que vem depois de uma revolta.

Tozé Brites de Macedo
já não tem por que viver
Fizeram-lhe o funeral
ainda antes de nascer

Tozé Brites de Macedo
já não tem por que lutar
Foi já velho para a Marinha
e acabou por se afogar

Tozé Brites não namora
não consegue dar abraços
Dizem que namora o medo
e que o trai com o fracasso

Mas, Tozé, a vida sabe
o que fazer com a cobardia
Põe-lhe a noite no encalço
e acaba com a sua agonia.

Enquanto lava os saiotes às freguesas
pensa sempre nos minutos que não passam
Não reclama, não nasceu p'ra ser princesa
sente que os dias já pesam, já amassam

Pudesse ela fazer das horas segundos
e iria aonde a levasse o mundo.

Chorei como quem chora
uma partida
Quando acordei
e vi que não lá estavas.

Eu sinto que
a cada despedida
fico mais pequenina
mais mirrada.

Tudo nela soa a falso
e a postiço
Desde os beiços às canelas
Desde as unhas ao toutiço
Tudo nela é um rebuliço
de tralhas, cores e farpelas

Pobre escrava do barroco
de pele baça e amarela!