segunda-feira, 28 de junho de 2010

Cortejo Fúnebre

Vesti-me de luto.
O negro nunca me caiu mal...
Cobri com um véu a face molhada,
e emudeci, neste meu pranto espectral.

No cortejo, nada há de teatral.
A viúva, no seu transe, já não quer ser consolada.
E eu vejo, por entre as rendas do véu humedecido,
as netas que choram, a filha que sofre, desamparada.

Que triste é a morte - Que estranha é a vida.
Eu não páro de pensar naquela gente,
que, entre lágrimas amargas, ainda tem força
para encarar a cova frente-a-frente.


Mariana Reis

Hoje esqueci-me de como se sorria

Hoje esqueci-me de como se sorria.
Olhei-me ao espelho, triste,
e, em mim, tudo jazia
informe, incolor e sem piada.

Hoje, sou o céu. Mas sem pássaros,
Sem estrelas,
Sem nuvens,
Sem nada.


Mariana Reis

sexta-feira, 25 de junho de 2010

Don'Ana de Monforte

Dona Ana de Monforte
há vint'anos que não dorme,
Come pouco, e o que come,
rara a vez lhe mata a fome.

Dona Ana, quando canta,
tem medo de se embalar,
tem medo de adormecer
e nunca mais acordar.

Dona Ana, que existência,
viver sem nunca sonhar!
Dormir só por umas horas
não a vai, por certo, matar!

Mas Don'Ana de Monforte
insiste em não se ir deitar!
E quando a noite lhe bate à porta,
acende as luzes, e põe-se a chorar...


Mariana Reis

Ao Charlie

Quando dormes ao meu colo
tudo cala, tudo esquece...
e parece que o mundo adormece
aninhado entre as tuas patas...

Oh, Sua Alteza Felina,
Explicai-me essa sua magia
de apagar a melancolia,
de tornar esta alma pacata!


Mariana Reis