Como amo esse teu estreito apertar,
quando perco entre os teus braços o meu peito...
Como é triste o despertar neste meu leito
de princesa, que não sabe como amar...!
Eu, que tenho em mim a fome e o desejo
reunidos mansamente, enlaçados,
já não acredito em deus, nem em pecados,
já só quero andar perdida nos teus beijos!
Mariana Reis
terça-feira, 14 de dezembro de 2010
terça-feira, 2 de novembro de 2010
Monotonia
É meio-dia:
A chuva adormeceu pela calçada.
Um velho arrasta a perna atrofiada.
Manuel assassinou a senhoria.
A insípida Maria estatelou-se
ao comprido no passeio ensopado.
Choram putos nos recreios das escolas.
Há porrada mesmo à porta do mercado.
E, calada, escutando a telefonia,
estava eu, enrolada numa manta.
Tudo farta, nada muda, nada espanta.
Tudo serve p'ra trazer monotonia!
Mariana Reis
A chuva adormeceu pela calçada.
Um velho arrasta a perna atrofiada.
Manuel assassinou a senhoria.
A insípida Maria estatelou-se
ao comprido no passeio ensopado.
Choram putos nos recreios das escolas.
Há porrada mesmo à porta do mercado.
E, calada, escutando a telefonia,
estava eu, enrolada numa manta.
Tudo farta, nada muda, nada espanta.
Tudo serve p'ra trazer monotonia!
Mariana Reis
quarta-feira, 1 de setembro de 2010
Raíz
Não me tirem as guitarras,
os fadistas de olhos fechados,
os corações apertados...!
Não me apaguem as gambiarras!
Não me roubem os vinhais,
As paisagens do Alentejo,
O mar, os barcos, o Tejo,
O verde dos densos pinhais!
Não queiram que aprenda a viver
sem o cheiro deste país...
Minha Pátria, minha Raíz,
Que há-de, um dia, ver-me morrer.
Mariana Reis
os fadistas de olhos fechados,
os corações apertados...!
Não me apaguem as gambiarras!
Não me roubem os vinhais,
As paisagens do Alentejo,
O mar, os barcos, o Tejo,
O verde dos densos pinhais!
Não queiram que aprenda a viver
sem o cheiro deste país...
Minha Pátria, minha Raíz,
Que há-de, um dia, ver-me morrer.
Mariana Reis
Amor aos folhos
Eu, que tenho ainda mais sonhos
do que folhos no meu vestido,
Passo as horas num desatino,
e as noites, a sonhar contigo.
E, nos meus sonhos, os beijos
que me dás, são como os folhos,
que eu adoro e que me enchem
de brilho estes tontos olhos.
Mariana Reis
do que folhos no meu vestido,
Passo as horas num desatino,
e as noites, a sonhar contigo.
E, nos meus sonhos, os beijos
que me dás, são como os folhos,
que eu adoro e que me enchem
de brilho estes tontos olhos.
Mariana Reis
quarta-feira, 28 de julho de 2010
Poema para a Mana
Joana faz e desmancha,
desenha e sempre desfaz,
nela, tudo é capaz,
nela, tudo é mudança.
Joana, meu querubim,
com olhos de azeitoninha,
põe a tua mão na minha,
eu que gosto tanto de ti...
Mariana Reis
desenha e sempre desfaz,
nela, tudo é capaz,
nela, tudo é mudança.
Joana, meu querubim,
com olhos de azeitoninha,
põe a tua mão na minha,
eu que gosto tanto de ti...
Mariana Reis
Um Fado só para ti
Eu hei-de cantar-te, um dia,
um fado só para ti,
com letra escrita por mim...
um fado sem melancolia.
E hás-de embalar-te na sombra
que a minha voz projectar,
Hás-de entender que, a cantar,
não há nada em mim que se esconda.
Mariana Reis
um fado só para ti,
com letra escrita por mim...
um fado sem melancolia.
E hás-de embalar-te na sombra
que a minha voz projectar,
Hás-de entender que, a cantar,
não há nada em mim que se esconda.
Mariana Reis
quinta-feira, 15 de julho de 2010
A noite de Julieta
Pinta os lábios de vermelho,
Julieta da minh'alma...
Rodopia em frente ao espelho,
pois sei que isso te acalma.
Calça os sapatos pretos,
veste a saia de cetim...
São os melhores amuletos
para uma noite assim.
Julieta, não te esqueças
do perfume de baunilha...
E, antes que ele apareça,
põe na boca a cigarrilha.
Abre a porta, devagar,
Sorri para quem te deseja...
Nunca é tarde para se amar
uma boca que se beija.
Mariana Reis
Julieta da minh'alma...
Rodopia em frente ao espelho,
pois sei que isso te acalma.
Calça os sapatos pretos,
veste a saia de cetim...
São os melhores amuletos
para uma noite assim.
Julieta, não te esqueças
do perfume de baunilha...
E, antes que ele apareça,
põe na boca a cigarrilha.
Abre a porta, devagar,
Sorri para quem te deseja...
Nunca é tarde para se amar
uma boca que se beija.
Mariana Reis
segunda-feira, 28 de junho de 2010
Cortejo Fúnebre
Vesti-me de luto.
O negro nunca me caiu mal...
Cobri com um véu a face molhada,
e emudeci, neste meu pranto espectral.
No cortejo, nada há de teatral.
A viúva, no seu transe, já não quer ser consolada.
E eu vejo, por entre as rendas do véu humedecido,
as netas que choram, a filha que sofre, desamparada.
Que triste é a morte - Que estranha é a vida.
Eu não páro de pensar naquela gente,
que, entre lágrimas amargas, ainda tem força
para encarar a cova frente-a-frente.
Mariana Reis
O negro nunca me caiu mal...
Cobri com um véu a face molhada,
e emudeci, neste meu pranto espectral.
No cortejo, nada há de teatral.
A viúva, no seu transe, já não quer ser consolada.
E eu vejo, por entre as rendas do véu humedecido,
as netas que choram, a filha que sofre, desamparada.
Que triste é a morte - Que estranha é a vida.
Eu não páro de pensar naquela gente,
que, entre lágrimas amargas, ainda tem força
para encarar a cova frente-a-frente.
Mariana Reis
Hoje esqueci-me de como se sorria
Hoje esqueci-me de como se sorria.
Olhei-me ao espelho, triste,
e, em mim, tudo jazia
informe, incolor e sem piada.
Hoje, sou o céu. Mas sem pássaros,
Sem estrelas,
Sem nuvens,
Sem nada.
Mariana Reis
Olhei-me ao espelho, triste,
e, em mim, tudo jazia
informe, incolor e sem piada.
Hoje, sou o céu. Mas sem pássaros,
Sem estrelas,
Sem nuvens,
Sem nada.
Mariana Reis
sexta-feira, 25 de junho de 2010
Don'Ana de Monforte
Dona Ana de Monforte
há vint'anos que não dorme,
Come pouco, e o que come,
rara a vez lhe mata a fome.
Dona Ana, quando canta,
tem medo de se embalar,
tem medo de adormecer
e nunca mais acordar.
Dona Ana, que existência,
viver sem nunca sonhar!
Dormir só por umas horas
não a vai, por certo, matar!
Mas Don'Ana de Monforte
insiste em não se ir deitar!
E quando a noite lhe bate à porta,
acende as luzes, e põe-se a chorar...
Mariana Reis
há vint'anos que não dorme,
Come pouco, e o que come,
rara a vez lhe mata a fome.
Dona Ana, quando canta,
tem medo de se embalar,
tem medo de adormecer
e nunca mais acordar.
Dona Ana, que existência,
viver sem nunca sonhar!
Dormir só por umas horas
não a vai, por certo, matar!
Mas Don'Ana de Monforte
insiste em não se ir deitar!
E quando a noite lhe bate à porta,
acende as luzes, e põe-se a chorar...
Mariana Reis
Ao Charlie
Quando dormes ao meu colo
tudo cala, tudo esquece...
e parece que o mundo adormece
aninhado entre as tuas patas...
Oh, Sua Alteza Felina,
Explicai-me essa sua magia
de apagar a melancolia,
de tornar esta alma pacata!
Mariana Reis
tudo cala, tudo esquece...
e parece que o mundo adormece
aninhado entre as tuas patas...
Oh, Sua Alteza Felina,
Explicai-me essa sua magia
de apagar a melancolia,
de tornar esta alma pacata!
Mariana Reis
sábado, 29 de maio de 2010
Amigos para sempre
É maravilhosa a capacidade que os animais têm de nos pôr a sorrir, mesmo quando estamos em dias "não"... Cada dia que passa me apercebo mais que eles são, verdadeiramente, seres completos, seres puros, seres cuja simplicidade e percepção do que os rodeia vão para além da nossa compreensão (por vezes, tão limitada...). Estar com o meu gato ao colo, brincar com ele, vê-lo dormir e mexer os bigodes enquanto sonha, ou simplesmente estar parada a olhá-lo no fundo daqueles olhos azuis que parecem conter todo o universo dentro deles, faz-me sentir mais viva, e, ao mesmo tempo, mais pequenina, diante de uma criatura tão fantástica, e que tanto amor me dá todos os dias, sem nunca se fartar da pessoa que sou, sem nunca me julgar. Posso mesmo dizer que somos amigos inseparáveis, amigos para a vida, e que este gatinho lindo dá um verdadeiro sentido à expressão "amigos para sempre".
terça-feira, 16 de março de 2010
Meu batel encalhado
Oh, meu batel encalhado,
minha fé mais que abalada,
diz-me onde me perdi...
mostra-me o fim à estrada!
Eu, que nem sei remar,
diz-me porque me fiz
ao mar, repleta de sonhos,
sonhos que eu nunca vi!
Oh, meu batel encalhado,
Praia que me entristece,
Porque me obrigaste a ter fé,
esta fé que nunca acontece?
Mariana Reis (poema de 14/03/2010)
minha fé mais que abalada,
diz-me onde me perdi...
mostra-me o fim à estrada!
Eu, que nem sei remar,
diz-me porque me fiz
ao mar, repleta de sonhos,
sonhos que eu nunca vi!
Oh, meu batel encalhado,
Praia que me entristece,
Porque me obrigaste a ter fé,
esta fé que nunca acontece?
Mariana Reis (poema de 14/03/2010)
quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010
Eu hoje vi a Mariazinha
Eu hoje vi a Mariazinha!
Ai, mas que bem que lhe fica
a chinelinha bordada,
e o vestidinho de chita!
É cor de rosa, o vestido,
E a chinela é a condizer...
Quando passa por nós a cantar,
é difícil não parar para a ver!
No cabelo, leva uma fita,
e, nos olhos, o brilho da lua,
Não há coisa mais bonita!
O sorriso é da mãe, mas a boca é sua.
É triste, quando a Mariazinha
entra em casa, ainda a cantar...
Fica na rua um vazio,
e, no coração, um pesar...
Mariana Reis (poema de 16/02/2010)
Ai, mas que bem que lhe fica
a chinelinha bordada,
e o vestidinho de chita!
É cor de rosa, o vestido,
E a chinela é a condizer...
Quando passa por nós a cantar,
é difícil não parar para a ver!
No cabelo, leva uma fita,
e, nos olhos, o brilho da lua,
Não há coisa mais bonita!
O sorriso é da mãe, mas a boca é sua.
É triste, quando a Mariazinha
entra em casa, ainda a cantar...
Fica na rua um vazio,
e, no coração, um pesar...
Mariana Reis (poema de 16/02/2010)
A Santarém
Leiria
Leiria...
Aqui começa a noite e o encanto...
Descubram-se as cabeças, cesse-se todo o pranto,
porque aqui começa o Sonho e a Poesia!
Quis tanto eu ser como tu, um dia...
vestida de céu, de flores, de luar!
Trazes nas colinas mantos a cintilar
de estrelas, cometas, fantasia...
Deixa-me admirar-te nessa tua melancolia
alegre, de quem gosta de chorar...
Cidade minha, abraça o meu olhar,
Semeia em meu peito toda a tua alegria!
Mariana Reis (poema de 30/09/2007)
Aqui começa a noite e o encanto...
Descubram-se as cabeças, cesse-se todo o pranto,
porque aqui começa o Sonho e a Poesia!
Quis tanto eu ser como tu, um dia...
vestida de céu, de flores, de luar!
Trazes nas colinas mantos a cintilar
de estrelas, cometas, fantasia...
Deixa-me admirar-te nessa tua melancolia
alegre, de quem gosta de chorar...
Cidade minha, abraça o meu olhar,
Semeia em meu peito toda a tua alegria!
Mariana Reis (poema de 30/09/2007)
sexta-feira, 8 de janeiro de 2010
Andorinha
O Nome de Ofélia
Ofélia,
São encantados os passos dos teus pés,
e esse choro de ave que te torna transparente...
Trazes no cabelo o delírio das marés,
e, nas costas, duas asas impotentes.
Caminho contigo, e és uma fada indigente...
Ris da morte, ris da vida, do oceano...
E a morte ri-se de uma forma insolente,
amordaça-nos a alegria e qualquer único engano...
...mas não tens medo sequer da morte!
Dizes que nada te consegue matar...
gritas para o ar palavras à sorte!
E o nosso passeio estava quase a acabar...
Só quando chegámos ao fim da praia
eu consegui perceber, enfim,
que a morte não se ria de Ofélia.
A morte ria-se de mim...
E então, fraca e enganada,
ainda me volto para ver se a vejo...
- Porque te ris, sua descarada?
- Porque essa sou eu, disfarçada de anjo!
(Mariana Reis, poema de 18/08/2007)
São encantados os passos dos teus pés,
e esse choro de ave que te torna transparente...
Trazes no cabelo o delírio das marés,
e, nas costas, duas asas impotentes.
Caminho contigo, e és uma fada indigente...
Ris da morte, ris da vida, do oceano...
E a morte ri-se de uma forma insolente,
amordaça-nos a alegria e qualquer único engano...
...mas não tens medo sequer da morte!
Dizes que nada te consegue matar...
gritas para o ar palavras à sorte!
E o nosso passeio estava quase a acabar...
Só quando chegámos ao fim da praia
eu consegui perceber, enfim,
que a morte não se ria de Ofélia.
A morte ria-se de mim...
E então, fraca e enganada,
ainda me volto para ver se a vejo...
- Porque te ris, sua descarada?
- Porque essa sou eu, disfarçada de anjo!
(Mariana Reis, poema de 18/08/2007)
Imaginário
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