Ofélia,
São encantados os passos dos teus pés,
e esse choro de ave que te torna transparente...
Trazes no cabelo o delírio das marés,
e, nas costas, duas asas impotentes.
Caminho contigo, e és uma fada indigente...
Ris da morte, ris da vida, do oceano...
E a morte ri-se de uma forma insolente,
amordaça-nos a alegria e qualquer único engano...
...mas não tens medo sequer da morte!
Dizes que nada te consegue matar...
gritas para o ar palavras à sorte!
E o nosso passeio estava quase a acabar...
Só quando chegámos ao fim da praia
eu consegui perceber, enfim,
que a morte não se ria de Ofélia.
A morte ria-se de mim...
E então, fraca e enganada,
ainda me volto para ver se a vejo...
- Porque te ris, sua descarada?
- Porque essa sou eu, disfarçada de anjo!
(Mariana Reis, poema de 18/08/2007)